quarta-feira, maio 06, 2009

Você lê poesia? Não.

Então, depois de a Sol decifrar o enigma involuntário, vou explicar o post anterior. A idéia era tê-lo completado antes, mas não foi possível.

Vinha eu, saindo da UERJ, quando 'topei' com um desses moços-você-lê-poesia. E ele então, na mais pura expressão de sua raça, me estendeu algum papel e perguntou:

- Você lê poesia?

Eu, como uma moça bem educada, quando vi um moço-não-identificado me estendendo um papel, comecei a dar a resposta que sempre dou a estes, sempre andando sem parar:

- Não, obrigada.

Só que no meio da minha resposta eu percebi que ele tinha me perguntado uma coisa, e que a minha resposta ao gesto dele não combinava com a pergunta dele. Então parei no meio da minha resposta. Então o diálogo soou assim:

- Você lê poesia?
- Não.

Ficou tão esquisito, que um outro moço-aluno que vinha atrás de mim esboçou alguma reação à cena, e eu olhei pra trás, porque tinha percebido que tinha ficado nuito estranho. Ele riu da situação toda, comentou algo do tipo 'nossa', eu ri, ele disse que 'essa doeu no coração', e eu prometi a ele que lia poesia. Fim.

16 comentários:

Beta disse...

hahahaha

foi engraçado mesmo. Logo você, uma pessoa tão atenciosa, magoando o menino desse jeito!

Carolina disse...

na verdade eu prometi que lia poesia pro aluno-não-identificado, porque disse 'não' e continuei andando em direção ao ponto de ônibus. a troca de impressões com o aluno-não-identificado foi andando, atravessando a rua. o moço-você-lê-poesia, ficou lá, provavalmente magoado...

Ariel Shem Tov disse...

Pô! Fiquei com pena do moço-você-lê-poesia também! :)

Enfim, nós sabemos que vc lê!!

Acho uma ótima solução, embora dolorosa, pois eu vivo comprando as poesias desses caras.

Carolina disse...

Hoje passei por lá procurando o cara...mas ele não estava. Deve ter ido interpelar pessoas em outro lugar...

Kochan disse...

Fiquei curioso para saber o que ele queria com as poesias. 1 real? Cantada sofisticada talvez...

Carolina disse...

Kodi, eles normalmente querem vender um livrinho de poesia deles mesmos, bem barato.

Kochan disse...

Ah então conheço o tipo. Não tenho nada contra eles e até posso virar um, quem sabe. Só que vendendo fanzines =D~

Dimitri BR disse...

hahaha

nossa, vários comentáriozinhos a fazer:

1. spo você, carol, pra procurar o menino, por peso na consciência de tê-lo ofendido! :]

2. ...a não ser que, bem, o aspirante a poeta (ou a vendedor de poesia, porque poeta quem pode afirmar que ele já não seja) fosse mesmo gatinho. sabe, o fato de que ele quer vender seu livrinho NÃO impossibilita a cantada - muito pelo contrário: conheço pessoalmente um fulano (que ao menos então era bem bonito) que pagava as contas vendendo poseia com maquiagem de palhaço num sinal no leblon (!) e que, segundo consta, comeu (perdoe a expressão chula, mas essa história é sempre relatada nesses termos) várias de suas compradoras/leitoras (ele se vangloria disso até hoje. disso, e de ter recebido 10 reais - na época mó grana - de um famoso, sei lá, tipo o alceu valença. :D )

Dimitri BR disse...

3. pra terminar, segue o pequeno relato de um recente encontro com um moço dessa tribo:

dirigiamo-nos, eu, paola e juliana, à entrada do ccbb, quando paola faz meia volta e avisa: campo minado à frente - vendedores de poesia, da revista ocas e mais um terceiro sabe-se lá de quê.

destemidos, eu e juliana puxamos paola de volta no rumo da porta, driblamos a moça da ocas - até que com polidez -, desviamos do vendedor de sabe-se lá o quê - ocupado em falar com outro cliente em potencial - e já estamos quase conseguindo entrar, quando...

- vocês gostam de poesia?

não deu pra evitar. só que, um segundo antes do contato, dimitri sussurra: "ao meu sinal, todos cantando casa pré-fabricada* em uníssono".

dito e feito: foi só "vocês gostam de poesia?" que nós "aaaabra os teus armaários / que eu estou a te esperaaaar..." e passamos direto, incólumes, adentrando o ccbb.

pensa que ficou nisso? nem deu tempo de cogitar sentir uma culpa espontânea, legítima - o suposto poeta (vendedor...), muito agressivo, já quis nos impingir a dele: "eu sou burguês", disse, "sou classe média, sou alienado, eu vejo exposição"!

ayayay.

nem vou comentar. só esclareço o asterisco:

*não era essa a música. tô com sono agora e não lembro qual era. pra história isso não faz tanta diferença (embora eu pressinta que a original era mais engraçada), mas como eu sou um cara que se importa com qual música foi cantada em qual situação, achei por bem esclarecer esse fato. :]

beijos paratodos!

Kochan disse...

Meu palpite do real e cantada não estava tão furado, tehhe.

Dimitri BR disse...

não mesmo! :D

Beta disse...

huahuahua

Genial a sua história do "Você lê poesia?", Dimitri! E você tem razão, só a Carol mesmo pra procurar o vendedor de poesia por conta da consciência pesada!

Esses caras deve escutar cada barbaridade. Eu só de chegar no trabalho com um livro, acho que do Ezra Pound, tive que aguentar mais de um ano perguntas do meu chefe do tipo "Tá com sono hoje? O que foi, você ficou lendo poesias com os seus amigos ontem? Vocês sentaram em uma roda no chão?..." e assim por diante...

Carolina disse...

Dimi, sua história é maravilhosa mesmo. Ri muito, vou até reler depois. Mas eu queria muito saber qual era a música original. :)
A reação do moço-você-lê-poesia da sua história é muito boa! 'Eu sou alienado!' hahuahauhua

Beta, sua história do chefe não fica tão atrás. :)

Dimitri BR disse...

oiois

carol-lina e beta, de fato a história foi engraçada até na hora, mas essa do teu chefe também é BIZarra, beta! vixe maria, você ainda trabalha pra essa figura? =]

ah, e carol, juro que tentei lembrar qual era a música, mas ainda não deu; perguntei pra paola e ela não lembra tb.

MAS ela lembrou mais uma coisa que o moço-da-poesia falou, que é engraçada e eu não tinha lembrado:

"eu sou CULT!"

huhashsuahaha

beijos.

Beta disse...

Eita, desculpem o "Esses caras deve" ali em cima. Meus erros de digitação me torturam, e acontecem com bem mais frequência do que seria razoável.

Dimitri, sim, eu ainda trabalho pra esse gerente! Acho que a essa altura ele já se convenceu que eu não sento em rodinhas no chão pra ler poesias com os meus amigos...

Mas a pergunta certa seria "Você ainda trabalha nessa empresa?", porque esse nível de cultura artística é bem comum por aqui. Alguns anos atrás eu coloquei uns cartões postais de quadros do Miró na minha mesa, no lugar onde outras pessoas colocam fotos de viagens e tal. Acho que mais de dez pessoas disseram que fariam um quadro melhor que aquele. O discurso só variava no autor dos desenhos, se a própria pessoa que estava comentando ou os seus filhos. Bom, acabei tirando os postais. Não adianta discutir...

Carolina disse...

gentche, eu não queria me desculpar com ele, mas restabelecer a ordem do universo, tendo uma reação diferente dessa vez. mas confesso que hoje quando ia chegando na UERJ, vinha eu procurando o sujeito, e na minha cabeça já se anunciava "aaaabre os teus armários / eu estou a te esperaaaaar". nossa, queria muito saber a canção original da história do dimitri.

beta, GO MIRÓ! :) essa reação às pinturas dele são muito comuns, né? coloca alguma coisa que pareça mais complexa, tipo fotos de algma bailarina do degas, e quero ver alguém dizer que o filho faria igual com massinha! e se alguém disser, responda: "jura? eu sempre quis ter um degas na minha mesa, você acha que seu filho faria um pra mim? que oportunidade imperdível!"

:)

eeeeu soooou cuuuult!