terça-feira, novembro 20, 2007

Posso dizer o que eu acho?

Eu acho que criar um "Troféu Raça Negra" para premiar atores e cantores negros é discriminação. Não contra os brancos, nada de racismo às avessas. Mas é dizer 'parabéns a vocês, negros, pessoas tão boas que conseguiram se destacar no mundo dos brancos'. Eu acho que é dizer que aquelas pessoas precisam de um prêmio só delas, ou não ganham prêmio nenhum. O que a gente sabe que não é assim. É dizer que os negros são talentosos apesar de serem negros. E isso é absurdo. O talento existe, e está em todos os lugares. Não existe um povo mais ou menos talentoso.

Eu acho sim que a distinção de artistas negros tem que ser comemorada no nosso país, porque nossa sociedade vem de uma história muito recente de escravidão, e os negros ainda têm sim menos oportunidades do que os brancos.

Agora, fazer um troféu, e colocar as pessoas pra dizer que temos que comemorar os negros que conseguem se destacar, e que os negros são tão bons quanto os brancos é reforçar a discriminação. Quando eles dizem "Taís Araújo foi a primeira atriz negra a protagonizar uma novela da Globo", eu me sinto mal, porque eu não tinha percebido isso, e acho que isso não deveria ser uma coisa que precise ser dita o tempo todo. E que não ter percebido isso é uma coisa boa. Porque significa que eu não reparo nessas coisas, e que não faz diferença pra mim se a atriz protagonista de uma novela é branca, negra ou amarela. Ou vermelha, roxa, azul. Por outro lado, eu acho legal quando eu vejo a própria Taís Araújo falando sobre essa novela que ela protagonizou, que pela primeira vez não tinha como mote a questão racial. Ou seja, era uma história que poderia ter sido protagonizada por qualquer atriz.

Em resumo, eu acho que ficar sublinhando essas coisas, só lembra às pessoas que isso existe. E lembrar que existe, reforça.

Amigas, eu estou viajando?

Give me some perspective.

6 comentários:

Moriah disse...

Eu acho exatamente isso. E o lance da novela da Thais Araujo, foi igual, eu nao percebi que ela era azul, verde ou roxa, soh que era a Thais Araujo.

Isso aconteceu em outro nivel comigo na minha profissao. Quando eu entrei para o mundo do audio, eu percebi que eu era mulher e que eu era diferente todos os dias. Ateh hoje isso acontece. As pessoas me lembram *todos os dias* de que eu sou mulher, isso me eh apontado diariamente.

Isso nao acontecia quando eu trabalhava na FGV. Eu era mais um da galera.

Enfim, eh aquela velha historia, as classificacoes reforcam a nao-unicidade das coisas.

Beta disse...

Então... tinha um tempo que eu achava o 'dia internacional da mulher' um absurdo. A maior discriminação sexual... Não acho mais.

Preconceito ainda existe. Em várias partes do mundo, as mulheres ainda têm menos direitos do que os homens. Aqui mesmo no Brasil, muitas vezes recebem salários inferiores, trabalham mais horas, sofrem abusos morais e físicos... Enfim, acho importante que se dê valor às conquistas e que se aponte onde ainda existe preconceito.

A mesma coisa com os negros. Importante lembrar essa história de abuso, pois liga as pessoas às suas raízes.

Quando o Brasil tiver uma presidente mulher, claro que vão falar que é a primeira. Por que não agir da mesma forma com relação à cor da pele? Ela foi usada para justificar maldades, e eu não acho que se deva tapar o sol com a peneira e dizer que não se vê cor de pele.

Eu acho que as pessoas negras que têm sucesso, em geral, têm ainda mais mérito do que as brancas, porque tiveram que vencer muita discriminação, muito abuso moral, muito olhar torto na rua, e ainda assim seguiram em frente. Podiam perder a auto estima, podiam desistir e culpar a falta de oportunidades e o preconceito. Ia ser fácil, né?

Eu nunca tinha ouvido falar no Troféu Raça Negra, mas acho legal premiar vencedores. E mostrar na TV para outros jovens negros que a cor da pele não é um problema. Que pode até ser um pouco diferente na aparência, mas que histórias de sucesso se constroem com coragem e determinação. Mais obstáculos implicam em maior refinamento, em mais força, não em impedimentos.

Enfim... Nessa eu discordo de você, Carolsita! Em teoria, você está certíssima, mas considerando o mundo atual, a iniciativa é legal.

Carolina disse...

Primeiro de tudo, eu acho que é muito muito muito diferente ficar repetindo por dez anos que a Taís Araújo foi a primeira negra a protagonizar uma novela e quando tivermos uma presidente. Até porque, metade do mundo é mulher.

E a questão não é tapar o sol com a peneira. No mundo artístico é muito comum que negros se destaquem. E nesse caso eu não vejo *mesmo* a cor da pele. Eu realmente não reparei nisso na época (pois eu me lembro) e não reparo nisso hoje.

Quanto ao que você disse sobre considerar o mundo atual, foi isso que eu disse. Eu acho que isso deve sim ser comemorado. Mas por outro lado, a diferença entre comemorar e discriminar é muito sutil num caso como esse. E na matéria que eu vi na TV sobre esse troféu, pareceu discriminação.

Eu acho que isso tem que ser apontado e comemorado, mas não discriminado. E a diferença entre uma coisa e outra depende do tom.

Beta disse...

Tem razão, depende do tom. Eu não vi o programa, então acredito em você que deve ter sido mais no tom de discriminação. Aí fica estranho.
bj

Efrat disse...

hum. interessante. concordo com os comentários e que o tom faz toda a diferênça.

E o que vocês acham da mídia estar totalmente em cima de casais gays atualmente? Tipo, "o primeiro beijo gay no horário nobre". E agora dúvido que vá ter 1 novela das 8h sem um casal (homem ou mulher) no foco.
E isso mudou muito de uns anos pra cá. Me lembro há pouco tempo que todos os papéis gays eram totalmente secundários, tipo o cara que trabalhava na vendinha do seu José. E nunca mostrava nenhum relacionamento de fato. Era só um cara afeminado. (esterióotipooo)

E agora os papéis são protagonizados pelos atores e atrizes principais e ganham destaque nas novelas.

E, da mesma forma que vocês estavam falando da Thaís Araújo ter ficado como uma referência da primeira mulher negra, também fica a referência do primeiro beijo gay na tv - como se isso fosse algo que não acontecesse todos os dias desde... sempre! E como se fosse muito diferente de um beijo hétero.

bjocas

Anônimo disse...

a linha é tão tênue, né? eu fiquei pensando nisso a semana toda... de repente até o tal programa na tevê estava retratando a parada no tom errado! e isso me faz lembrar o quanto não podemos confiar na imprensa de olhos fechados....

quanto ao beijo gay, é muito verdade e isso. tanto que o primeiro beijo gay ainda nem aconteceu! e fica todo mundo falando 'será que vai ser nessa novela?'

mas como tudo, acho que sempre vai depender do tom. assim como uma parte das pessoas do mundo pode se ofender com um beijo gay na novela das oito, uma outra parte do mundo pode se ofender ou se decpcionar por causa do tom em que isso é feito.

eu me lembro, eu até postei no blog!, sobre o final de uma novela que tinha um casal de meninas. uma delas era a alinne moares. e no final, não teve beijo gay, e era uma festa à fantasia. a alinne moraes estava vestida de julieta e a outra menina estava vestida de mágico! de cartola e tudo! eu detestei que a menina estava vestida de menino.